sábado, 2 de maio de 2009

O Refúgio

Sítios como este inspiram-me.
Olhar em volta e não ver vestígios de humanidade excepto a casa em que estou. Sentir a natureza a entranhar-se-me no corpo. O convívio. A conversa. Cantar como se ninguém estivesse a ouvir. Verde-cinza. As horas passam e o meio envolvente começa a pulsar de vida. Os primeiros raios de sol começam a acordar os bichos. Um zangão arrasta-se pelo chão ainda com as asas meias adormecidas. Decido brincar aos Deuses. Movo o pé em direcção a ele. Seria tão fácil dizimá-lo neste estado de fragilidade. Vejo as flores. As mesmas flores que daqui a nada este serzinho que agora permanece na mira do meu pé daqui a alguns minutos irá polinizar. O pé deixa de fazer mira. És tão importante aqui como eu. Não sou nenhum Deus para decidir se podes seguir o teu caminho ou não.
Ainda estás aí? Mas, quem és tu? Será que ainda ocupas este lugar? Olho para dentro e não sei se ainda te vejo.
Uma pontinha luminosa por vezes brilha com mais intensidade.
Volto a atenção para o céu. As estrelas já se foram deitar. Resta uma. Esta é a mais especial. Vai ser esta que vai permitir ao zangão aquecer as suas asas e voar.
Contam-se histórias antigas a combinar com o lugar. A menina dança? Quantos filmes estas paredes já terão visto. Quantos pés estes tapetes terão sentido? Quantas pancadas esta televisão já terá levado.
Outras vidas que não a minha. Este Refúgio será o meu lugar? Estou só de passagem...

go!

Palavras como estas inspiram-me.
Quero conhecer! Mais.
Sou ambicioso. Parar para saborear o momento. Nem sempre é fácil. Quero mais instantes como este.

Talvez hoje ainda te voltes a cruzar comigo. Talvez decidas espetar-me o teu ferrão e injectar-me com o teu veneno. Talvez decidas poupar-me a essa dor para poderes continuar a viver e a visitar as tuas flores. Lembrar-me-ei sempre de ti. Não fui eu que te poupei a vida. Ela não era minha para poupar. Talvez um dia, alguém que tenha o poder de me espezinhar também e decida não o fazer. Sabes, bichinho? O poder deveria trazer com ele uma grande dose de responsabilidade. Tu tens sorte. Sabes o teu lugar no mundo. E as tuas flores têm sorte também. Mas será que tens consciência da sorte que tens? E as tuas flores? Será que se apercebem da tua importância?

Eu continuo à procura da luz das estrelas. Um dia, vou encontrar o sítio onde posso e quero voltar. Um sítio que me queira de volta... Hoje, como ontem, como amanhã, apetece-me fazer falta a alguém.

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