segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

plano tecnológico

Praticamente no início do período a escola onde trabalho actualmente estava um caos. Estavam a instalar a banda larga nas salas todas e mais não sei o quê... Disseram-me que eram coisas do plano tecnológico. Resultado: invariavelmente, encontravamos as salas cheias de entulho. As funcionárias, limpavam uma sala e eles faziam um furo na sala ao lado. Elas iam limpar essa e eles voltavam à primeira. Chegavamos às salas às 8h da matina e eles tinham lá estado durante a noite a esburacar paredes. Era chão todo borrado, mesas, cadeiras... tudo! De vez em quando, via-se o grupo de artistas lá a passear de um lado para o outro, a olhar para tectos, paredes, a instalar calhas e a esperar a morte da bezerra.

Um dia, tive um encontro imediato com um destes senhores. Quase sempre, dou aulas de porta aberta pelas mais variadas razões. Estava eu a meio de 'uma espécie de aula' a um dos meus DEFs... Perdão! CEFs (erro legítimo) e entra-me um dos artistas pela sala dentro...
Primeiro, ainda pensei que fosse algum aluno da escola, armado em parvo, mas verifiquei, quando olhei melhor para ele, que era demasiado velho para ser aluno. O gajo entrou com toda a confiança do mundo sem dar cavaco a ninguém e, ainda considerei a hipótese de o tipo ser o rei daquilo tudo mas não, era mesmo um dos funcionários da empresa que estava a fazer a instalação daquelas coisas de que percebo pouco!
O homem, como viu que tanto eu como os alunos tinhamos ficado a olhar para ele, lá continuou a dirigir-se para algures ao pé das janelas, enquanto dizia:
- Tenho qui ver aqui di uns fios!
Bem, se calhar, no brasil funciona assim! - pensei eu. Mas disse-lhe que devia ter batido à porta, perguntado se podia entrar e depois fazer o que quer que tivesse a fazer, rapidamente.

O homem lá olhou para os fios durante uns dez segundos e saiu com a mesma rapidez que entrou sem sequer um obrigado... Os meus alunos, naturalmente calmos, obviamente começaram a falar uns com os outros, bem alto, para o homem ouvir e não foram muito meigos com o homem naquilo que disseram; que o homem era mal-educado e que lhe faziam isto e aquilo. O homem, ao sair, pareceu-me murmurar algo sobre não haver respeito e que estava a fazer o trabalho dele mas decidi não fazer caso. Lá estive cerca de cinco minutos a acalmar as hostes e, quando estava quase a conseguir que eles voltassem a trabalhar, entra o brasileiro lançado, pela sala dentro, de novo.
Eu até sou um gajo tolerante e não tenho nada contra os brasileiros, em geral, mas este, em particular, já me estava a começar a irritar um pouquinho... É que, não contente por voltar a entrar na sala sem pedir licença, ainda se pôs a falar com um colega que estava do lado de fora a dizer que ia precisar da ajuda dele.

Lá lhe tentei explicar, de forma educada, que estavamos a meio de uma aula e não podia haver barulho e que não teria nada contra ele continuar a fazer o seu trabalho, desde que o fizesse em silêncio. Nem referi regras de educação porque não estava para me chatear. O homem responde-me que na direcção lhe tinham dito que para despachar aquilo o mais rápido possível pois já era suposto ter acabado.
Tentei continuar a aula enquanto ele andava lá de volta dos cabos até que ele me interrompe enquanto eu estava a falar e diz:
-Vô tê qui trepar em cima da mesa!
E à medida que diz isto, começa a arrastar a mesa em que uns dos alunos estava sentado...
Pronto! Lá foi um brasileiro porta fora.
- Olhe, desculpe mas, vai ter que sair! Volta quando eu tiver acabado a aula.
Protestou! Reclamou que não o deixavam fazer o trabalho dele...
Respondi-lhe que se podia ir queixar a quem quisesse mas que, na minha sala, ele só entrava quando eu acabasse e pronto... Nunca mais um daqueles jovens me entrou sala dentro.

Bela forma de se implementar o tal do plano tecnológico nas escolas deste nosso país! Agora, supostamente, vou ter banda larga, projector multimédia e computador em todas as salas mas, os alunos continuam a ter de levar mantas para a escola porque aquilo é só buracos e não se está nas salas, confortavelmente, sem umas luvas, casaco e uma manta por cima das pernas... mas, desde que estejam na net, de certeza que lhes vai descongelar os cérebros e as mãos... eles vão aprender muito mais!!!

2 comentários:

Abobrinha disse...

Não foi tudo mau: foi uma lição ao vivo e a cores de boa vs má educação. E acho que os teus alunos a entenderam e interiorizaram.

Icon disse...

Abobrinha: apenas mais uma situação caricata...
Quanto aos alunos... às vezes, fazem pior!!! :(